Tráfico financiava compra de votos

FOTO: KIKO SILVA

Doze pessoas, entre elas, a candidata a prefeita e o marido, foram presas, ontem, pela Polícia Federal

FOTO: KIKO SILVA

Uma operação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), através de sua Procuradoria Regional Eleitoral, prendeu, na cidade de Cariús (418Km de Fortaleza), ontem, 12 pessoas suspeitas de envolvimento em tráfico internacional de drogas e compra de votos. Entre os presos estão a candidata a prefeita daquele Município, Natália Ferreira Gomes, 28 (coligação PRB, DEM, PHS, PV e PCdoB) e o marido dela, o candidato a vereador Ezivan Gonçalves dos Santos, 47 (Coligação PRB, PHS, PV).

Na tarde de ontem, o procurador eleitoral, Márcio Torres; e o delegado federal Eliomar Lima Júnior concederam entrevista coletiva, em Fortaleza, para dar detalhes da operação policial realizada, pela manhã, na cidade de Cariús.

Segundo as autoridades, as investigações revelaram indícios de que dinheiro oriundo do tráfico internacional de drogas poderia estar sendo utilizado na compra de votos para os dois candidatos. A investigação mista teve início há, pelo menos, seis meses, segundo o delegado federal Eliomar Lima Júnior, titular da Delegacia de Repressão aos Entorpecentes (DRE).

Quadrilha

Conforme as autoridades, o candidato a vereador Ezivan Gonçalves seria um dos ´cabeças´ de uma quadrilha interestadual que trazia cocaína da Bolívia. As drogas eram produzidas e despachadas na cidade de Santa Cruz de la Sierra e chegavam ao Brasil por via terrestres, sendo redistribuídas pela quadrilha em vários Estados como Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

No Ceará, parte da cocaína era direcionada à região Centro Sul, sendo estocada na cidade de Iguatu (384Km de Fortaleza). Outra parte seguia para o Cariri. Havia também rota de droga para a Capital.

Durante a operação policial, os agentes da PF apreenderam cerca de um quilo de cocaína, além de crack e uma prensa para a compactação da droga. Entre os 12 presos estão dois estrangeiros. Seriam dois bolivianos, segundo a PF. Os nomes deles e dos demais brasileiros presos durante o cerco em Cariús não foram divulgados.

Rota

Segundo o delegado Lima Júnior, as drogas importadas da Bolívia pelos traficantes brasileiros passavam por vários Estados. Em algumas ocasiões, ocorreram até apreensões de parte dos entorpecentes. No entanto, o bando, logo repunha o estoque de cocaína. Mas, segundo, o titular da DRE, quando Ezivan decidiu se candidatar a vereador de Cariús e sua mulher a prefeita, parte do dinheiro do tráfico estaria sendo desviado do bando para a prática ilícita da compra de votos e isso gerou desavenças.

A Polícia Federal descobriu nas investigações que parte do bando não concordava com a atitude de Ezivan de utilizar o dinheiro da venda de drogas na campanha política dele e de sua esposa, em Cariús.

A PF também revelou que haviam ´negociações´ para que o bando também exportasse cocaína para a Europa.

Operação

Munidos de 16 mandados de prisão preventiva e temporária, policiais federais deixaram Fortaleza ainda na noite de quinta-feira passada e, no começo da manhã de ontem, montaram o cerco na cidade de Cariús. Havia também mandados de busca e apreensão a serem cumpridos ali.

Ezivan e a esposa foram os primeiros a serem capturados. A PF informou que ele , alem de ser um dos ´cabeças´ do tráfico de drogas, já tem um longo histórico criminal, com condenações em São Paulo e Mato Grosso. Desta vez, a prisão dele foi determinada pela 11ª Vara da Justiça Federal no Ceará.

Já no campo político, a Polícia Federal, junto com a Procuradoria Eleitoral, do MPF, constatou que os recursos provenientes do tráfico estavam dando suporte à campanha do traficante e da esposa em Cariús.

O procurador regional eleitoral, Márcio Andrade Torres, informou que durante as buscas policiais foram apreendidos diversos documentos que apontam diversas irregularidades, entre elas, autorizações para consultas médicas, compra de remédios e até para conserto de veículos em oficinas mecânicas em troca da promessa de votos nos dois candidatos.

De fora

Em entrevista coletiva na tarde de ontem, nesta Capital, o procurador eleitoral Márcio Torres fez a ressalva de que não há, porém, provas cabais de que a candidata Natália Gomes tenha envolvimento no tráfico de drogas.

“A princípio, a prisão deles não gera inelegibilidade. Há de se aguardar os próximos dias para saber se haverá uma renúncia, ou se o processo eleitoral irá seguir normalmente”.

PROTAGONISTAS

Casal sob investigação federal

O candidato Ezivan Gonçalves dos Santos, 47, natural de Saboeiro, foi preso, ontem, por conta de uma investigação da Superintendência da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Ele é acusado de comandar um esquema criminoso que trafica drogas (cocaína) oriunda da Bolívia. As diligências apontam que parte dos lucros obtidos nesta atividade delituosa estaria sendo empregada na ação política do próprio Ezivan e de sua mulher, candidata a prefeita pelo mesmo Município. Ezivan e a esposa, assim como outros suspeitos do caso, foram trazidos para a sede da PF na Capital.

Natália Ferreira Gomes, 28, é natural do Município de Jucás. Segundo sua ficha eleitoral junto ao Superior Tribunal de Justiça (TSE), ela exerce a profissão de empresária e seu limite de gastos na campanha para prefeita de Cariús é de R$ 500 mil. Revela, ainda, que Natália, é sócia de uma empresa de construção civil. Ontem, ela acabou sendo presa juntamente com o marido, o candidato a vereador Ezivan Gonçalves. O Ministério Público Federal afirma que as investigações da PF apontam para a prática ilegal de compra de votos. E mais, o dinheiro seria oriundo do tráfico de entorpecentes.

Fonte: Diário do Nordeste

Deixe um comentário

scroll to top