Desabastecimento se agravou na zona rural e a demanda por carros-pipas aumentou no atual período do ano.
O Ceará enfrenta um dos piores períodos de estiagem dos últimos 40 anos. O tempo quente e seco e a demanda elevada por água contribuem para a redução do nível dos reservatórios. O volume médio atual acumulado no Estado é de 55%. No início do ano era de 70,9%. Para atender à necessidade de abastecimento humano no Interior, a Operação Pipa já chegou a 94 municípios, mas com a ampliação do programa por parte da Defesa Civil do Estado agora são 115 municípios assistidos.
No início do ano, existiam em 139 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), em 12 bacias hidrográficas, 12,9 bilhões de metros cúbicos e hoje são 10 bilhões de metros cúbicos. Os números apontam para o período mais crítico do ano em decorrência da evaporação e do crescimento do consumo do produto.
Sem recarga
No fim da estação chuvosa de 2011, o volume de água acumulado nos reservatórios era de 85% e hoje caiu para 55%, ou seja, praticamente não houve recarga em 2012. “Há 23 municípios em situação mais crítica”, observa o diretor de Operações da Cogerh, Ricardo Adeodato.
“Em uma análise macro, o quadro ainda é confortável, pois os principais centros urbanos e o setor industrial estão abastecidos”. Apenas o Açude Gavião, localizado no município de Pacatuba, está com volume acima de 90%. Com volume inferior a 30% são 43 reservatórios. O maior açude do Ceará, o Castanhão, acumula 60% da capacidade e o segundo maior, o Orós, está com 78%. Esses índices deixam a Região Metropolitana de Fortaleza em situação de segurança hídrica, na avaliação técnica da Cogerh.
Os municípios de Irauçuba, Itapajé, Pacoti, Quiterianópolis, Salitre, Campos Sales, Piquet Carneiro e Tauá têm atenção especial por parte do Comitê da Seca. Outras 15 localidades enfrentam situação crítica.
“As nossas ações emergenciais referem-se ao abastecimento por carro-pipa e por poços artesianos”, explicou Adeodato. “Temos também vários projetos em andamento que, no futuro próximo, serão executados para segurança hídrica em uma próxima estiagem”. Um desses serviços seria a adutora do Açude Arneiroz II para Tauá.
Neste ano, a Operação Pipa tem duas frentes de ação. Uma é realizada pelo Exército por meio do Ministério da Defesa e do Ministério da Integração que atende a 94municípios e a 740 mil pessoas. A outra, por intermédio da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (Cedec), que assiste a 21 cidades e a 82 mil moradores. A meta do Governo do Estado é chegar a 78 municípios até o fim do ano.
A assessora técnica da Cedec, Ioneide Araújo, disse que os últimos três meses do ano são o período mais crítico. “Entramos na pior fase, nos meses mais severos. A evaporação é maior e a demanda por água é crescente”, explicou. “Em alguns dos municípios, tanto o Exército quanto a Defesa Civil podem atuar conjuntamente, distribuindo água para as populações necessitadas”.
A Operação Pipa realizada pelo Exército atende as áreas rurais e a da Defesa Civil assiste os moradores de áreas urbanas. Se houver necessidade, fará abastecimento para os animais. “Temos 178 municípios em situação de emergência”, informou Ioneide Araújo. “O nosso esforço é para chegar a 78 localidades de acordo com o planejamento”.
Inovação
O secretário de Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, disse que o Governo do Estado inovou ao firmar convênio com o Ministério da Integração para fazer a distribuição de água por meio de carro-pipa e também a recuperação de poços profundos que estavam sem utilização, por problema no sistema de bombeamento ou por falta de dessalinizadores. “O Exército já atende um volume elevado de municípios e procuramos somar esforços para chegar a todas as localidades que enfrentam desabastecimento de água”, disse Nelson Martins. “Até a chegada da pré-estação em janeiro próximo, a situação agravada pela seca só tende a piorar”.
Situação crítica
Anteriormente, a Cogerh disponibilizava no site da instituição os dados referentes ao percentual acumulado em cada bacia hidrográfica. Agora só há o volume de cada açude monitorado pelo órgão. O quadro mais crítico ocorre na região dos Sertões de Crateús, que está com apenas 23,8% do volume e na Bacia do Curu, com 28%. A situação mais confortável ocorre nas regiões da Serra da Ibiapaba (74%) e do Alto Jaguaribe (73%).
A Assessoria de Imprensa da 10ª Região Militar informou que, atualmente, o abastecimento dos municípios por caminhão-pipa ocorre com regularidade, mas que pode haver eventual suspensão temporária em decorrência de falta do laudo de potabilidade do manancial ou descontinuidade no fluxo de recursos federais. Neste ano, segundo a nota à imprensa da instituição militar, a suspensão temporária do serviço atingiu apenas 1,5% dos municípios inscritos.
Os municípios cearenses atendidos com distribuição de água por meio de carros-pipa pela Cedec são Acaraú, Amontada, Apuiarés, Ararendá, Fortim, General Sampaio, Ipaporanga, Iracema, Nova Russas, Pereiro, Piquet Carneiro, Poranga, Quiterianópolis, Trairi, Santana do Acaraú, Marco, Morrinhos, Massapê e Nova Russas.
Mananciais em Aiuaba estão em estado crítico
Aiuaba. A falta de água é um problema em todo o Nordeste, ocasionado pela estiagem. Na grande maioria dos municípios do Ceará, a operação carro-pipa continua sendo a forma de obtenção de água para as comunidades rurais. Nesta cidade, localizada a 600km da Capital, a escassez hídrica está prejudicando a população local. Os reservatórios que abastecem a zona rural, composta por mais de 75% da população do município, estão praticamente secos e os que ainda têm alguma água, não são apropriados para o consumo humano. Agricultores estão sendo obrigados a se desfazer dos seus rebanhos, para que não morram de sede e fome. A situação é crítica e preocupa as autoridades municipais, também na sede. O Açude Bengué, que abastece a cidade ainda tem água, mas não é de qualidade. Assim, até o Hospital Municipal está recebendo água do carro-pipa.
“A nossa população é predominantemente rural e esse povo está sofrendo bastante com a falta de água. Os reservatórios no interior estão sem água e a pouca que resta não serve para beber”, lamenta Welison Sousa, secretário municipal de Agricultura. Ele chama a atenção de que os carros-pipas não são suficientes e demoram a chegar às áreas mais necessitadas, pois estão indo abastecer nos poucos reservatórios que ainda têm água e são distantes. “Estamos muito preocupados, ansiosos para que as chuvas não tardem”, disse.
Conforme o secretário, dez carros-pipas estão abastecendo as famílias na zona rural, onde a situação é mais preocupante. Porém, não são suficientes. Diz que foi feita a solicitação aos órgãos do Estado e aguarda liberação de mais caminhões para atender as famílias e aliviar a situação em diversos locais.
Poços profundos
Cedro, Bom Nome, Sumaré e região são, segundo ele, as localidades com maior necessidade do produto. Não há água para consumo humano. Pequenos açudes, rios, cacimbas estão secos. Foram perfurados poços profundos e não se obteve água de qualidade. Nessas localidades, os agricultores estão angustiados com a situação do rebanho. Muitos já venderam seus animais para não ver a morte deles e assim perderem tudo. Dos 240 produtores cadastrados no programa de venda em balcão da Conab, apenas 160 estão recebendo o produto.
Na sede do município, o Açude Bengué, que abastece a cidade, ainda aguenta até o fim do ano. A distribuição é feita pela própria Prefeitura Municipal, que gerencia o sistema de abastecimento já precário, instalado há cerca de 50 anos, quando havia bem menos habitantes na cidade. A água não é de boa qualidade, mas está sendo utilizada para o consumo humano.
No Hospital Municipal, porém, a falta já é um problema sério. Mesmo sendo localizado na zona urbana, a unidade está recebendo o líquido por meio do carro-pipa, que uma vez por semana abastece o local. Welison salienta que a gestão municipal tenta apoiar o agricultor e o socorre da forma que pode, se utilizando dos programas do Governo Federal, como seguro safra, bolsa estiagem, Pronaf, entre outros a fim de amenizar a realidade desesperadora do produtor. Estão sendo beneficiados 1756 agricultores.
Quiterianópolis
Distante 440km da Capital, o município de Quiterianópolis passa por situação semelhante à Aiuaba. O Açude Colina, reservatório que abastece a cidade está com pouca água e o pouco que têm é turva, impura, fétida e imprópria para consumo. A que chega às torneiras das residências é de péssima qualidade. A maioria das pessoas utiliza a água encanada apenas para lavar roupas e outros afazeres, que não sejam beber e cozinhar os alimentos. Alguns compram água que vem do município de Poranga e os demais, sem alternativa, utilizam a que é distribuída pela Cagece.
Semana passada a população passou a receber a operação carro-pipa e a expectativa é que amenize a situação de calamidade. A Cagece, por sua vez, manifesta sua preocupação.
“A água se exauriu e nos preocupa porque a escassez é geral na região”, explica o gerente de Unidade de Negócios da Cagece da Região dos Sertões de Crateús, engenheiro civil Hamilton Claudino Sales.
Emergência
178 municípios se encontram em situação de emergência, por conta do aumento da demanda da água e a rápida evaporação dos reservatórios cearenses
Fonte: Diário do Nordeste