Os Mercenários 2: divertido e sem sentido

“Os Mercenários 2” diverte com as piadas que os velhos ídolos do cinema de ação fazem de si mesmos

Cinema é a maior diversão. A frase, criada pelo cearense Luis Severiano Ribeiro (1886-1974), fundador do Grupo Cinemas Severiano Ribeiro, expressa o caráter de entretenimento e lazer que o Cinema deve ter. Há quem não concorde, mas Hollywood e muita gente que faz filmes não dão a menor bola para isso.

A ideia de Sylvester Stallone em reunir os “astros” dos filmes de ação foi uma grande sacada: segundo longa da franquia já arrecadou mais de US$ 170 milhões

O cinema, não há a menor dúvida, é diversão – mas também é arte. A própria produção de um filme é um trabalho de arte, por pior que seja o seu resultado, na tela e junto ao público, cuja grande maioria também vai ao cinema para se divertir e trocar a realidade e os problemas do mundo pelo tempo de duração do filme. Os filmes de ação e aventura são os preferidos do público por oferecem, justamente, o prato feito: explosões, tiroteios e perseguições. Às vezes, recheado por um toque de romance aqui e acolá – tipo uma baião de dois quase sem feijão.

“Os Mercenários 2”, de Simon Wincer, revela-se o típico representante desse cinema de entretenimento, a ponto da crítica internacional colocá-lo quase que a um nível de “Missão Impossível 4 – Protocolo Fantasma”, o segundo melhor filme de ação feito nos últimos anos.

Confira o trailer de “Os Mercenários”

Embora não tenha a qualidade da aventura estrelada por Tom Cruise, “Os Mercenários 2” é um espetáculo popular bem- sucedido em sua proposta de “cinema diversão” e no fato de dividir a sua ação – desenvolvida numa história absurda e sem sentido – com a ironia destilada nos diálogos que marcam a sua narrativa do início ao fim. Foi este o método utilizado por Joss Whedon – em uma história inteligente – para transformar “Os Vingadores” no melhor filme de ação do ano 2000 para cá.

A ideia de Sylvester Stallone em reunir os “astros” dos filmes de ação e aventura foi uma grande sacada. Embora o primeiro filme não tenha obtido a devida atenção do público – custou US$ 80 milhões e faturou US$ 103 milhões nos EUA e mais US$ 171 milhões no mercado internacional -, serviu para mostrar que a ideia poderia obter um melhor tratamento através de um roteiro um pouco mais bem elaborado.

Stallone e Dave Callahan (que foi o criador dos personagens) receberam uma história criada pela trinca Ken Kaufman (Cowboys do Espaço), o estreante David August e Richard Wenk (Assassino a Preço Fixo) e deram alguns “ajustes”. Claro, a base dessa história é do primeiro filme e a premissa tinha de ser mantida.

Mas, agora, o que diferencia as duas produções é justamente o melhor tratamento do roteiro, embora praticamente sem dramaticidade, a qual tem como o fio condutor a morte do garoto Billy (chamado de Billy the Kid, referência ao jovem pistoleiro do Oeste estadunidense e personagem de diversos filmes), que direciona a história para a temática da vingança.

“Os Mercenários 2” custou US$ 100 milhões e além das filmagens no Estado da Louisiana, locações na Bulgária e China. Ou seja, teve uma produção mais bem cuidada, cujo resultado está se expressando nos números obtidos até agora: US$ 69,6 milhões nos EUA e mais US$ 102,4 milhões no mercado internacional. Com US$ 172 milhões em caixa, precisa, portanto, de mais de 85 milhões de dólares para empatar com a bilheteria do primeiro filme.

A boa receptividade da crítica e do público a “Os Mercenários 2” advém não apenas pelo “desfile” dos atores que se tornaram ídolos das plateias no século passado, mas principalmente pelos diálogos irônicos e irreverentes com os quais tratam uns aos outros. Chuck Norris, 72, foi McQuade, “O Lobo Solitário” (1983) no filme dirigido por Steve Carver, Arnold Schwarzenegger é ameaçado de ser exterminado logo no início e promete retornar com a frase que virou bordão, e Dolph Lundgren, engenheiro químico com mestrado pelo Instituto de Tecnologia da Suécia, é ironizado como gênio da ciência ao longo de todo o filme.

Os diálogos proporcionam, também, boas risadas com referências a filmes e aspectos ligados aos personagens dos atores e até de alguns fatos ligados às suas formações e personalidades, além de ter as cenas de ação claramente exageradas. A violência, assim, soa ridícula.

No final das contas, “Os Mercenários” se posta mesmo é como um produto de recordação feito com a intenção de promover o reencontro do grande público com os seus ídolos do passado, mesmo que estejam além dos 60, 70 anos. Não interessa. Eles, todos, estão em forma e ainda garantindo que valem o preço do ingresso.

Vale a pena destacar que, na tela, quatro “astros” dão o toque de equilíbrio em seus rasos personagens: Jason Statham, Jean Claude Van Damme, Sylvester Stallone e Chuck Norris. Além de, é claro, Liam Hemsworth. Quanto a Simon Wincer, o diretor, apenas conduz a história conforme estabelecido no roteiro – um esforçado maquinista com a missão de não deixar o trem sair dos trilhos.

“Os Mercenários 2” é, portanto, um filme feito exclusivamente para referendar que o cinema é a maior diversão. Não dê importância para a estupidez da história e se ligue nas piadas irônicas e inteligentes.

Mais informações:
Os Mercenários 2(The Expendables 2, EUA, 2012), de Simon Wincer, com Sylvester Stallone, Jason Statham, Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Dolph Lundgren e Jean Claude Van Damme. 102 minutos. 16 anos. Cinemas e horários no caderno Zoeira

PEDRO MARTINS FREIRE
CRÍTICO DE CINEMA

Fonte: Diário do Nordeste

 

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